Viva a Itália

Por Inácio Araujo

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Se há uma coisa boa é, pelo menos, ter a esperança de que o cinema italiano ressuscita.

Ao menos dá alguns sinais de vida para além da pura individualidade de um ou outro. Começa a haver certa regularidade.

E um filme que me entusiasmou foi “Viva a Liberdade!”, que tem estranhamente passado em branco aqui no Brasil.

Não conhecia Roberto Andò, o autor. Apenas o ator, Toni Servilio.

Um resumo diria que é uma espécie de “Kagemusha” europeu.

Um senador, candidato a Primeiro Ministro pela oposição, vive crise política e existencial.

Chega na convenção do partido e não tem o que dizer. Desaparece.

O partido, com as calças na mão, só tem um recurso: apelar para o irmão gêmeo dele, um filósofo que acaba de sair do hospício.
Tudo que se pede é que fique calado.

Claro que ele não ficará.

Fábula política, sem dúvida, que envolve os políticos, o uso e abuso dos arranjos, a falta de idéias que acompanha tudo isso etc.

Ora, o filósofo colocará de volta em questão algo que está fora: o desejo.

O desejo sem fim. A paixão. A ausência de limites.

Em suma, será muito menos um político do que um psicanalista.

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Não por acaso, Servilio nesse papel parece muito com Jacques Lacan, que também era excêntrico e genial.

Claro que isso, aqui, pode ser atenuado pelo que se possa notar como expectativa e mesmo certa pregação moral de Andò: trata-se, não por acaso, de uma fábula sobre o envelhecimento da Europa em tom de uma bela comédia.

Quem quiser levar ao pé da letra realista… Bah… Não faz sentido. O certo é que perderá um dos filmes mais inteligentes deste até aqui pobre ano.