Assisti com interesse ao primeiro episódio de Bipolar, a nova série de TV brasileira.
Achei interessante, para começar, uma série que não tem nenhuma cara de Rede Globo, nem de cinema que tenta bajular o espectador. As pessoas não são do Jardim, da Vila Madalena, nem da periferia.
Onde estamos? Num lugar de classe média, sem dúvida.
Num lugar meio rude.
Numa delegacia, basicamente. O personagem central será uma jovem delegada, tratar-se-á de seu trabalho e de sua vida pessoal.
O argumento é interessante, e logo de cara um cantor hipócrita morre.
Mas aí começam os problemas, e eles também não são poucos.
A delegada principal é uma durona, mas parece que não faz nada mais na vida além de ser durona.
É uma coisa meio monocórdica: você pensa que aprendeu alguma coisa na faculdade? – ela vive perguntando isso. Uma vez, ok.Depois vira redundância.
E todo mundo participa dessa redundância.
O parceiro que a delegada botou na cola dela é um.
Há também uma repórter que, em vez de perguntar sobre as investigações, só sabe perguntar se ela tem experiência e tal.
Parece coisa que acontece com cineasta iniciante, que a equipe fica desafiando.
Talvez seja a parte autobiográfica da coisa.
Mas esse é um problema facilmente superável, se bem que vão ter que dirigir melhor a delegada principal e lhe dar outra coisa pra fazer, além de achar a subordinada incompetente e inexperiente.
O problema grande mesmo é que Bipolar aponta para dois lados ao mesmo tempo e não se decide nem por nem por outro.
Há o policial e há o existencial.
É algo que precisa ser resolvido: trata-se de uma série de gênero. Não dá pra ter uma investigação que pára porque a delegada está perto de uma síndrome de pânico. Pode ser até que na vida real seja assim. No cinema, tem de ficar com uma coisa ou outra. E evitar, de todo modo, a convenção. Estar próximo da vida real. Acho que isso interessará ao espectador.
É uma série que, com algumas correções, pode ficar bem interessante.
Ao menos é o que me parece hoje, depois do primeiro capítulo.
Ah, sim, Silvia Lourenço, que faz a delegada jovem, está bem. O papel do legista que descreve os piores crimes com aparente prazer só serve para interromper a ação.