Para acabar com Bolonha 2014- Parte 1

Por Inácio Araujo

Última – O Japão no começo do sonoro

Um pouco era ridículo: “Filho Único” do Ozu? Sim, foi o primeiro sonoro do Ozu, mas eles já tinham passado há dois anos. Entrou em cartaz em Paris, provavelmente em NY e LA. Qual o sentido de voltar a isso?

Os Yasujiro Shimazu, sim, são importantes, porque morreu cedo (1945), acabou se tornando pouco conhecido, mas é um dos cineastas-chave do mudo japonês. Este ano os curadores da série trouxeram três. Eu só pude ver o primeiro deles, Tonari No Yae-Chan (Neighbour, Miss Yae” ou Nossa Vizinha, Yae) uma comédia bem mais que graciosa sobre vida em família, dois irmãos, a amizade (e depois mais que isso) de um deles pela vizinha que no começo é uma espécie de irmãzinha, essas amizades de infância. Muito forte, confirma mesmo que Shimazu era muito bom, impressão que eu já tinha de outros carnavais.

Agora, é o seguinte: Mizoguchi! “Gubijinso” (The Field Poppy – A Garota do Campo), de 1935, é um filme deslumbrante. A proposição do enredo coloca em cena um velho professor de Kyoto que vai a Tóquio para casar a filha com o seu filho de criação, um jovem brilhante: ele era prometido a ela. O problema é que o jovem já adquiriu hábitos de Tóquio, ocidentalizados, e entre outras está de romance com uma rica garota. Então o que está em jogo é tradição contra modernidade, no fundo, casamento arranjado ou não. Culpa ou não. Etc.

Mas não é esse o ponto de Mizoguchi: cada enquadramento (enfim, não cada…) é um deslumbramento, uma preciosidade, um jogar simples e arrojado com as linhas e as luzes, de tal modo que o espaço é que compõe o drama, aproxima e afasta os personagens. Uma sumidade, enfim.

Bem ao contrário de Heinosuke Gosho, de quem já vi belas coisas. Mas dele, aqui, vieram duas comédias, uma francamente horrível (A Esposa Fala no Sono, de 33) e a outra no máximo razoável (O Marido Fala no Sono).

Foi isso que deu pra ver, dom Sergio Alpendre.

FANTOMAS

Cinco dias de Fantomas restaurado. Às 9 da matina. Só vi um: O Morto que Mata. Pelo título já se vê o tanto de imaginação, de frescor, de vitalidade que existe nesse seriado de Feuillade, e não admira que os surrealistas babassem com as aventuras do grandíssimo bandido: era um mundo novo que se abria, sem nada do peso cavalar (e secular) das “grandes artes”. Esperemos DVD com ansiedade para ver o todo.