Meu entusiasmo pelo Cinema Ritrovato de Bolonha, este ano, está meio mitigado, o que não significa que não houvesse muita coisa a ver.
Mas a programação era estranha: tinha horas de nada a ver e horas congestionadas de coisas que todo mundo estava a fim de ver.
Um resumo rápido.
Riccardo Freda
– Quem sabe responder, entre Hernani Heffner, João Luiz Vieira, João Carlos Rodrigues, por que Riccardo Freda veio parar no Brasil? Era um diretor de sucesso na Itália do pós-guerra. Tem um filme grande em 46 e um belo “Os Miseráveis” de 48. Depois faz um Casanova com Gassmann.
E uma serie de terror bem interessante com “Vampiros”, de 56, e “Os Segredos do Dr. Hichcock” (Hitchcock sem o t) – este último com a Barbara Steele.
Há um “Teodora, Escrava e Rainha”, que, apesar do final frouxo (desses que parece orçamento estourado) aproveita bem a transição da era de Justiniano do paganismo ao cristianismo. E, a bem dizer, há uma mistura bem interessante ali da tradição religiosa que chegava ao final e da outra que se impunha.
A visão de vários filmes de Freda permite observar um cineasta bem pós-guerra, bem desencantado com o mundo, mas transformando isso em espetáculos de um modo geral bastante sólidos. O filme mais forte, no entanto, permanece “Beatrice Cenci”, sobre a trágica família, sobre a trágica Beatriz com seu pai incestuoso: enfim, o filme que já tinha passado em 2013.
Ah… E para Hernani Heffner, João Luiz Vieira, João Carlos Rodrigues me socorrerem, não esquecerem, retomo: que diabo veio fazer no Brasil o Freda, se era um cineasta que não parava de trabalhar na Itália? Gosto de aventura? E “O Caçula do Barulho”? Existe para ver? Existe?
Wellman
A gente conhece William Wellman, cineasta nunca desprezível, de gestos inesperados, brutais, o de “Ox-Bow Incident”, digamos, que pega tão bem a rusticidade de certos ambientes.
Mas da retrospectiva me ficou que ele foi grande ali entre 30 e 33, antes do Código Hays, com seus filmes em que o mocinho é o contrabandista de bebidas e os ricos são perversos a ponto de matar os próprios filhos para ganhar dinheiro (falo de Night Nurse, com uma Barbara Stanwick garota já genial). Obra-prima, mas não a única do período.
Curioso, já ali existe um filme com Walter Huston bem tipo “lei e ordem”. Ainda assim, bom como demonstração de um modo de viver (adoro essa primeira fase do sonoro, em que a intriga é secundária, vale mais a exibição de modos de viver, trabalhar, pensar). Mas, dizia eu, depois parece que Wellman, o rebelde, cede a Hollywood, a seu modo de ver as coisas, à censura.
Fica menos forte, embora com momentos sempre admiráveis. Mas a conversão não deu tão certo.
E mais…
Houve desde um extraordinário primeiro sonoro de Mizoguchi a um filme anti-bélico de Lubitsch, passando pelo Renoir de “A Cadela”. Voltarei a eles.
E “Fantomas” restaurado. As 9 da manhã: um pesadelo!
Mas nenhuma grande retrospectiva francesa, o que era de lei. E quase necas de documentário (ano passado houve Chris Marker, Agnès Varda)
E a grande decepção: 1914. Pouco espaço para a Grande Guerra, nenhum telejornal de época que eu tenha visto.
Em troca, “Matrimônio à Italiana”, um De Sica mais ou menos…
Por ora é isso. Tenho que correr à padaria agora!