André Setaro

Por Inácio Araujo

Ah, não! Andre Setaro, não! Fico sabendo por Marcelo Miranda que foi um infarto agudo de miocárdio.

Desta vez a perda é nossa: da observação, da análise, do discurso sobre o cinema.

Eu o conheci em Tiradentes. Naquele calor, sempre de óculos escuros e calca comprida, nunca uma bermuda.

Um tipo estranho, todos se diziam.

Nos debates, a platéia esperava, tensa, sua intervenção. Tinha ar de quem ia destruir tudo.

Não. Era sensato, gentil, mas suas observações eram sempre agudas, fortes.

Um desbaiano.

Não antibaiano, claro. Mas sem patuá, sem fitinha…

Sei lá; vai ver que tinha até pai de santo!

Não importa.

Pessoalmente, era uma conversa muito culta e sempre agradável.

Abrir seu blog era uma alegria (que nos últimos tempos não conseguia desfrutar, admito).

Ele não se incomodava muito com o presente. Como se o essencial do cinema estivesse atrás. Como se o grande momento fosse o da Nouvelle Vague e, depois, reflexos, decadências, sobras.

Sua perda é terrível para a cultura cinematográfica, para a Bahia, para o Brasil. Saber que não poderei mais desfrutar de sua conversação, algum dia, a qualquer momento, uma desgraça.

É provavelmente um dos meus muitos defeitos: pensar que as pessoas são eternas, deixar para depois.

Mas ele, também, fez o contrário: sumiu de repente. Queria que tivesse lido o livro que vou publicar: não haverá.

Que em descanso haja muitos sonhos com Godard & cia.