Alterações de percepção

Por Inácio Araujo

A Copa do Mundo provoca distorções de percepção e comportamento interessantes.

Me vejo, por exemplo, torcendo pelo Equador, contra não sei bem quem, exclusivamente por se tratar de um time latino-americano.

Francisco, meu filho, relata que na Vila Madalena, central paulistana da farra, topou com um grupo de ingleses comemorando loucamente após uma derrota.

Ele perguntou por que comemoravam. Eles disseram: vocês estão acostumados a vencer, então qualquer empate já ficam emburrados. A gente perde sempre. Então não importa, vamos comemorar.

Acho interessante essas “invasões” chilenas, argentinas, uruguaias. Acho mesmo que servem, sobretudo com relação à Argentina, para dar uma interrompida nessa rivalidade caipira. Então eu deveria estar contra o país de Borges, de Cortázar, de Bioy, de Macedonio? Nem pensar. A Copa, com sua invasão, dá a perceber humanos de todos os lados, os daqui como os de lá.

Voltando às vaias à presidente. O problema é que não foram vaias. Políticos estão aí para ser vaiados ou aplaudidos. Mas é necessário mostrar um pouco de educação. Quem foi ao estádio, elite branca ou não, não foram os velhos geraldinos, nem recém-chegados dos grotões. Eu entendo que haja parcelas da população, à direita ou à esquerda, insatisfeitas com a Dilma, ou com o Alckmin ou o Haddad, ou lá quem seja. Isso não nos desvia da educação, a não ser quando a difamação se tornou matéria banal, inocente. Banalidade do mal.