Quase ninguém no cinema. A época já não é de ir ao cinema. Além do mais, quem lembra de Lech Walesa? E quase digo: quem lembra do Wajda?
Bem, o Wajda está num acerto de contas bem justificável com os russos, que começou quando ele reconstituiu o massacre em que morreu seu pai.
E Walesa? O filme retraça a luta do sindicato Solidariedade na Polônia e, a julgar pelo que está lá só posso dizer que não era fácil, não era nada fácil.
O filme deixa uns brancos inquietantes. Walesa foi preso uma infinidade de vezes. Nunca se esclarece porque eram prisões tão rápidas, porque ele era solto, porque não deixavam o cara numa masmorra… essas coisas que faziam no Brasil, que fazem em Israel etc.
Ora, fala-se de um poder vastíssimo, mas ao mesmo tempo parece que em algum ponto fraturado. Mas essa fratura não é bem especificada, ao menos não aos olhos de um ocidental, décadas depois.
O esquecimento de Walesa vem do fato de que o governo dele não deu certo. É um ponto em que o filme não toca.
Mas o final é de uma ambiguidade angustiante. Todo o tempo o filme parece um elogio de Walesa. Mas eis que, no fim, ele aparece no Congresso dos EUA fazendo um discurso em que exalta a liberdade.
Ok. Só que é diferente você falar “liberdade” em Varsóvia ou Moscou, ou ainda em Paris (onde se conjuga com igualdade e fraternidade), e em Washington, onde quer dizer coisa muito diferente.
Então fica essa ambiguidade final, quase a sugestão de um líder que, se liberta a Polônia, logo se vincula meio que carnalmente aos americanos. Seria uma pista para o seu fracasso?
Ainda assim, do ponto de vista da luta que leva, pois não era só com os poloneses que tinha de se entender – os russos estavam por trás – é um filme acima da média.