Já falei da série “Adeus, Camaradas”, que passa no canal Curta! Pois bem, agora saiu em DVD, o que é um conforto, porque eu sempre pegava pelo meio, às vezes o mesmo capítulo, duas, três vezes, e nunca o que eu esperava.
A série começa em 1974, onde se identifica o apogeu da URSS, com sputniks, poder nuclear e, sobretudo, poder sobre o bloco do leste. Chega a 1991.
Não é uma dessas séries anticomunistas por definição. Ela é apenas contra o comunismo, mas também apenas a partir do que se viveu ali.
E, na verdade, não era sopa.
Não vou ficar aqui na série, mas naquilo que consigo identificar como verdade irrecorrível que lá se descreve.
A falta.
Estive uma vez em Berlim Oriental. Quer dizer, eu estava em Berlim, num festival de Berlim, e fui fazer a visita de um dia ao outro lado.
E aí, caramba, tinha avenidas invejáveis, todas pareciam a 23 de maio, só que todas vazias. De vez em quando passava um ônibus, daqueles enormes. E só.
Aí você ia numa livraria. Diziam que era a maior do mundo. Talvez. O fato é que, basicamente, o que havia lá eram as obras completas de Lênin, Marx e do chefe local, Honeker, se não me engano. Isso se encontrava em alemão, holandês, português, latim, aramaico, o que se quisesse.
E depois, se a gente entrava num supermercado era uma coisa absurda: só estantes vazias.
Comprei uma pasta de dentes. Parecia uma lixa.
Diziam que era porque a Rússia, depois da guerra, tinha levado toda a indústria alemã que restara como indenização. Que a Alemanha comunista se refez sozinha, que produzia muito maquinário…
Pode ser, mas quem veste maquinário?
Era uma tristeza o que as pessoas vestiam.
Triste. Apenas isso. Sem imaginação. Sem tesão.
Verdade seja dita: a alimentação era baratíssima e não faltava.
Mas isso não é tudo na vida, não é?
Isso para dizer que entendo o que diz o filme, que em geral é bem mais duro com os camaradas.
Enfim, quero dizer: é um bom documento, que ajuda a saber o que aconteceu por lá nesse tempo, entre coisas triviais e outras brutais, mas não uma visão tipo CIA.
Vale ver.