Uns Minutos de Silêncio

Por Inácio Araujo

Uns minutos, ou uns dias, que diferença. O fato é que estou chocado ainda com a morte de Luciana, cujo sobrenome eu não lembro. Sei que era casada com um rapaz chamado Clayton, que tinha uma filha pequena, de uns três anos, e sofreu o estouro de um aneurisma há alguns dias, quando estava no ônibus, voltando para casa.

Não há reclamações médicas. Foi operada na Santa Casa, operação de sete horas, depois foi reoperada, mas não voltou à consciência.

Luciana tinha pouco mais de 30 anos, acho que 33. Trabalhava em casa uma vez por semana: uma vez fazia a faxina, na outra passava roupas. Era uma pessoa bonita, alegre, cheia de vida, de maneira que ficamos, lá em casa, arrasados com o desfecho surpreendente.

Ela não vai aparecer em obituários, nem por feitos excepcionais, nem por nada mais. Então fica aqui uma espécie de adeus, porque parece que só nos damos conta da existência integral das pessoas que trabalham conosco quando seu desaparecimento é irreversível. Até então parece que estão na nossa vida meio de passagem, que sempre estarão lá na semana que vem, enquanto eu viver ou for conveniente. Não é bem assim.

Apichtapong

Vi Hotel Mekong no sábado. O Cinesesc está exibindo o filme apenas na sessão de 20h.

Fracasso total. Existe, claro, o lado enigma do filme.

Mas, à parte isso, existe o lado magia, que costumávamos saber apreciar em tempos idos.

Desta vez há um fantasma que se alimenta de vísceras. De cães ou de humanos.

A fantasma, no caso, é mãe da protagonista. Aparece comendo as vísceras da filha, eu supus, em dado momento.

Esses fantasmas do Apichatpong são estranhos, convivem direto com os vivos. Aqui não há nem uma aparição progressiva. De repente ela está lá, depois que já se alertou para isso.

Não sei se existe um sentido alegórico nisso tudo, mas no passado nós vivíamos cercados de seres fantásticos, aqui no Brasil.

O último filme do Edgard Navarro dá conta disso muito bem.  E no entanto já estão lá a ditadura, os militares, a tortura – como que acabando com os mitos.

Humberto Mauro

Fica para outro dia minha revisita ao “Canto da Saudade” do Mauro.

Me parece cada vez mais um novo filme, quer dizer, um filme mais atual, mais vivo.