Meu reaça preferido

Por Inácio Araujo

Uma das coisas chatas dos reaças é que são seres puramente reativos. Eles não têm ideias. Sua ideia consiste em negar a ideia dos outros e, eventualmente, desfazer delas.

Se não encontram, inventam.  Um exemplo é essa história de “politicamente correto”. Como é uma coisa chata, que está montando um mundo cada vez mais autoritário, onde se pode perder o pátrio poder quando um dedo-duro te vê dando uma palmada no filho (mas pode ser uma câmara oculta, também vale), como é uma coisa chata, eu dizia, passou a ser “de esquerda”. Por quê? De que esquerda? Qual a paternidade disso? Respondia na origem a determinadas questões especificamente americanas? Tem aspectos em que se associa a lutas liberais (anti-segregação, anti-raciais, pela diversidade sexual etc.) também.

Mas o que esse povo da reação afinal combate? Não é um pensamento, é uma bruma. Isso dá com muita frequência numa coisa rancorosa, num tinha um não sei quê sem saber onde (disse Tristan Corbière) filosófico, que nem aquele velho chato acho que lá do Rio.

Bem, por isso mesmo eu gosto de ler o João Coutinho na Ilustrada. Ele é conservador. Não esconde a perspectiva, o ponto de vista de onde fala. E alguns de seus artigos, nem todos, são bem-humorados e bem sacados.

Como a necessidade de revermos de tempos em tempos nossas preferências. Ele hoje odeia Henry Miller. E talvez esteja certo. Ele representou coisas muito importantes, foi um cara central para a liberação sexual de muitos de nós. Mas talvez não seja tão duradouro assim. É a rever.

A opção pelo conto contra o romance, que ele afirma, é na verdade uma opção do Borges, mas eu a considero pessoalmente cada vez mais interessante, mesmo que você não seja um Borges.

Para o leitor um livro de contos é muito melhor que um romance. Você começa a ler. Se não gosta pula para outro. Aí pelo oitavo conto entende o que o cara quer. E começa de novo…

O romance, pelo menos para um leitor impaciente como eu, é coisa sem meio termo.

Mas eu não queria dizer isso. E sim que quase sempre ele é um cara que se lê porque parece feliz com o que é, com o que pensa, o que faz. Um conservador. Mas tenho a impressão de que pode ser um bom conversador também.

(Apesar de não gostar do Oliveira, o que é uma bobagem; mas, como eu, não suporta o Saramago).