Dias de BH, de Humberto Mauro, de Revista de Cinema

Por Inácio Araujo

Na Sala Humberto Mauro, Rafael Ciccarini promove uma retrospectiva completa de Humberto Mauro. Chamou Sheila Schvarzman para falar sobre o documentário maureano. Eu fui chamado gentilmente, meio de consorte, para comentar um filme (“Canto da Saudade”) e um debate com Sheila e Geraldo Veloso sobre vida, obra e posteridade de Mauro. Vale a pena voltar a isso.

Eu queria dizer, porém, que o que deviam ser dias maravilhosos, foram atrapalhados por uma dor de cabeça insistente, chata, que me impediu de ver muita coisa e me prostrou na cama.

O que não impediu de ser fantástico. Acho que Rafael está propondo uma espécie de revisão HM. O que significa que Mauro ficou retido em uns tantos clichês. A brasilidade, a simplicidade, o homem brasileiro…

Se é para ficar nessa abordagem sócio-histogriográfica até o final dos tempos, bem… Mauro não faz mesmo nenhum sentido mais.

Mas se a gente observar que esse homem descreveu, ali entre os anos 20 e começo dos 30 um mundo pequeno, atrasado, reacionário, pode-se perguntar o que, afinal, faz a sua originalidade. A safadeza, a sexualidade – matéria em que não é nada ingênuo, diga-se – mas também, sobretudo, a capacidade de dispor os corpos na tela, de aproximá-los da natureza, de retirar a ficção da pura convenção a que os sujeitos a condenavam para torná-la uma matéria apreciável, viva.

Não dá mais para escutar que Mauro mostrou “o homem brasileiro”. Já passou. Que outro homem poderia ter mostrado?

Não sei por onde se deva começar, francamente. Mas me parece que começar é uma boa.

E A REVISTA…

A Revista de Cinema é uma instituição que existiu entre os anos 50 e 60, em Minas, nesse momento de reavaliação do que fosse o cinema.

A seleção, em dois volumes, foi feita pelo Marcelo Miranda e pelo Rafael Ciccarini.

Li só um pouco, mas a importância é evidente, não só por trazer artigos de gente como Cyro Siqueira, pensador maior do grupo em vários momentos,  como pelo que informa sobre a maneira como o Brasil buscava, naquele momento, se ajustar a essa nova compreensão do cinema.

Por minha visão rápida, provisória, há algo que também serve para baixar a crista dos críticos e dos especialistas: estamos sempre procurando decifrar o que o cinema foi, defiinir o que é, adivinhar o que será. Por vezes até se acerta. Mas, caramba, o que mais se pode fazer é tatear.

Esse tatear, no entanto, é, com todas suas idas e vindas, diferenças de opinião etc., produto de gente brilhante. É um livro que vale a pena buscar. Ou antes, dois. São dois volumes. Edição da Azougue.