Eu já escrevi antes que gosto da Virada Cultural. A maior parte das atrações e mesmo a concentração absurda de gente nos palcos não me interessa, mas sim a criação de um espaço de troca.
Ali estão zona sul e norte, ricos e pobres, alegres e tristes. Uma ocupação com milhões de pessoas de todos os tipos, com interesses diversos e, sobretudo, em que o centro noturno se desarma.
É verdade que, abrindo a internet no domingo, o que me parecia uma alegre convivência nada mais pareceu aos repórteres que perigo, ameaça, arrastões, roubos de celulares.
Não sei se foi bem assim. Houve, pelo que entendi, alguns roubos. Mas quantos milhões de pessoas circularam pelo centro naquela noite?
Se formos ver bem a proporção, ela é mínima. No mais, os repórteres notaram que, a cada caso relatado, havia sempre alguns polícias ou guardas metropolitanos por perto.
Então, não foi policial, a virada.
Foi, sim, mais um capítulo da policialização da existência, do hábito adquirido pela classe média de ver ameaça em toda parte.
Isso já fez de nossas residências um conjunto deplorável de grades, aumentou distâncias, criou desconfianças em relação a qualquer estranho (em particular os que não estejam bem vestidos), mesmo em bairros onde não costuma acontecer nada (Higienópolis, em cujas bordas eu moro, por exemplo: a violência tão falada existe, sim, mas na periferia).