Getúlio – Uma alegoria?

Por Inácio Araujo
Tony Ramos é Getúlio Vargas no filme dirigido por João Jardim Foto: Bruno Veiga / Divulgação
Tony Ramos é Getúlio Vargas no filme dirigido por João Jardim
Foto: Bruno Veiga / Divulgação

E voltamos ao Getúlio.

Ou será ao Ismail? Getúlio, uma alegoria (do subdesenvolvimento?).

E se pensarmos em atualizar esse filme?

E se a abordagem íntima de Getúlio em seus últimos dias fosse um despiste (consciente ou não) para falar de coisas mais recentes?

Esse presidente atraiçoado pelos seus próximos, com caso de corrupção nos calcanhares de que não tem conhecimento etc. e tal.

Não lembra Lula em 2005?

E o assassinato do major não seria o mensalão de seu tempo?

E Gregório Fortunato não seria uma espécie de José Dirceu, guardadas as devidas proporções?

E dar à imprensa o papel praticamente principal na campanha pela deposição de Vargas (pelo intermediário de Carlos Lacerda, é verdade) não seria uma forma de pensar os meios de comunicação nos dias de hoje como algo em que ressoa a opinião das classes altas e médias, mas não do conjunto da população?

Sim, porque eu me pergunto qual o sentido de um filme sobre Vargas hoje em dia, já que presidentes ou autoridades em geral não são o forte de nossas cinebiografias.

Não será esse o filme, por acaso, o verdadeiro filme do lulismo?

Em vez de Getúlio, o pai da pátria, será que não temos aí um Getúlio, o filho do Brasil?

Claro, há diferenças: em 1954, os militares eram, basicamente, golpistas. Hoje, o apelo às armas é infinitamente menos sedutor.

Não que eles tenham se convertido à democracia (vide a resistência à abertura de arquivos do exército etc.), mas não existe um projeto militar para o país atualmente.