Bob Hoskins, o sósia do Leon Cakoff

Por Inácio Araujo
(Piyal Hosain/Fotos International/Getty Images)
(Piyal Hosain/Fotos International/Getty Images)

Não, a ideia não é, com esse título, diminuir o ator, que acaba de morrer.

Ele era formidável.

É que a primeira vez que o vi foi numa Mostra. Leon Cakoff fez exibir “Mona Lisa”, o primeiro Neil Jordan a pintar por aqui, num desses momentos fugazes em que o cinema inglês ressurge, logo antes de submergir novamente.

E então eu falei para Leon que ele tinha trazido o filme do sósia.

Quer dizer, muita gente deve ter dito a mesma coisa, porque era evidente. Não era só certa semelhança física, mas sobretudo um jeito de estar nas coisas. Cakoff também tinha um sorriso um pouco retraído, o jeito de quem prepara a defesa contra uma agressão. E depois a capacidade de reagir.

Bem, isso para dizer que Bob Hoskins me faz lembrar do Leon cada vez que o vejo, e agora me faz lembrar, sobretudo, de sua falta.

Ambos farão falta, na verdade, mas a falta do Cakoff é mais imediata, mais presente.

Botox

Por acaso, no jornal, uma foto de Emerson Fittipaldi.

E a pergunta que me vem, imediata: por que é tão difícil envelhecer com dignidade no Brasil?

Por que será preciso, em vez de trazer as honestas marcas do tempo, produzir esses pequenos inchaços,que resultam em rostos desiguais, onde se insinua uma juventude que não existe mais no meio das irremovíveis dobras?

Não entendo isso, palavra.