Uma banana é mais que uma banana

Por Folha

A imagem mais marcante dos últimos dias é a do jogador Daniel Alves recolhendo e comendo a banana que lhe foi atirada por um torcedor.

Como já se falou, e muito, o gesto dele foi notável (e notado). Não há porque insistir.

A questão é: o racismo existe, sim, é forte, sim.

Apenas, como a extrema-direita (que tanto encarna coisas como intolerância e racismo), fica adormecido por uns tempos para então despertar com fúria.

Para tudo  busca-se o bode expiatório. Numa dessas manifestações de direita já apareceu um cara na TV a dizer que quem manda no Brasil é o Sarney e o Rotschild.

Que é uma estupidez não há dúvida. Que o nazismo era coisa de estúpidos, também não há dúvida.

Essas coisas são perigosas, sim. Na Europa a perseguição aos imigrantes é uma coisa tão cotidiana que já deixou de ser percebida. Mesmo nos EUA, o governo Obama, pelo que li, age com mão pesada.

E chegamos, aliás, ao Brasil, onde São Paulo (Estado e capital) disputam com o Acre o direito de deportar haitianos.

Enfim, o Daniel Alves, de gesto tão admirável, agora me parece que está metendo os pés pelas mãos ao dizer que não vem ao caso banir essa gente dos estádios (medida que o clube adotou).

Ora, o que mais pode o clube fazer? Daniel diz que é preciso educar essas pessoas. Mas educar como? Leva de volta pra escola?

Me parece uma lógica de chofer de praça: eles fazem uma coisa claramente absurda no trânsito e reclamam que o guarda multou. Acham que o guarda devia instruí-los sobre como dirigir. Caramba! Isso é um mundo de joões-sem-braço!!!

Também me parece muito certa a Justiça espanhola, que levou o cara ao tribunal. Eis como se educa, nesses casos. Claro que condená-lo a três anos de cadeia seria um exagero: deve-se lembrar que a banana, afora o racismo, faz parte dessas provocações de torcidas de futebol. Na multidão,também,  o cara se acha protegido.

Mas quando se tomam certas atitudes, como banimento etc., corta-se essa margem de segurança do sujeito anônimo: ele não é tão anônimo assim, afinal.

Já quanto ao movimento que saiu em defesa do rapaz nas redes sociais… Bem, nas alegações que li não existe nada, nem uma palavra, de substantivo.

Racismo sem máscara    

Já nos EUA, na NBA, foi o dono de um time que foi banido da liga.

Falou tudo que é intolerável a respeito de convivência racial.

Aqui no Brasil a questão, conforme o envolvido, recairia em quem quebrou o sigilo etc. etc.

Lá, a NBA não conversou: mandou o cara plantar batata.

É importante que essas atitudes aconteçam.

Por um lado, o racismo. Por outro, a barbárie (sinalizadores e congêneres, torcedores que se pegam em dia de jogo e tal). Aqui (e na liga sul-americana de futebol também, claro) não se faz nada.

Não dá mais pra ser assim.