Quem amou o cinema mais do que Cosme Alves Neto?
Talvez o documentário de Aurélio Michiles, “Tudo por Amor ao Cinema!, exista para oferecer a resposta a essa pergunta.
Ninguém – é a resposta.
Haverá quem o tenha amado tanto quanto e feito tantos esforços por sua guarda e difusão quanto ele. Mais do que ele, é difícil.
Por uma razão: como ficará claro ao longo do filme, Cosme era católico e comunista.
São as duas categorias historicamente mais afetadas pelo cinema, mais dedicadas a ele (com exceção dos nazistas, mas esses não contam por razões óbvias).
O documentário é um modesto porém excelente retrato do conservador da Cinemateca do MAM, Rio de Janeiro.
Não sei, e não me importa, se tinha mais ou menos filmes do que a Cinemateca Brasileira, essas coisas contábeis.
Sei que no MAM havia, ao contrário de São Paulo, uma cinemateca aberta. Cosme não só se empenhava por guardar filmes brasileiros, como cópias dos filmes estrangeiros que estavam para ser destruídas.
Ao contrário de SP, onde sempre prevaleceu a corrente disposta a enfurnar os filmes (e preservá-los para a eternidade), Cosme via a Cinemateca como um ponto essencial de difusão da cultura cinematográfica.
Daí (eu nem sabia disso) ter expandido as atividades para fora do próprio MAM ao Cine Paissandu, de onde saiu a famosa “geração Paissandu”.
Daí a Cinemateca do MAM ter criado essa tradição de motivar as pessoas para o cinema.
Claro, estávamos num momento de apogeu. Nos anos 1960 havia duas ou três grandes gerações de cineastas em atividade, nosso cinema começava a se mexer, etc.
Como a gente vê das pessoas formadas no MAM ou perto dele, essa atividade favoreceu enormemente o surgimento de cineastas, críticos, pesquisadores. Às vezes tudo isso junto.
Das imagens de Cosme e José Carlos Avellar diante do MAM por ocasião do incêndio (que preservou a filmoteca…), aos amigos cineastas, aos amigos de Manaus, aos parentes… Cada pedaço desse filme falará menos do amor pelo cinema do que das decorrências de sua atividade pela guarda, preservação e exibição de filmes.
A ver.