50 anos

Por Inácio Araujo

Feliz efeito dos 50 anos do golpe de Estado: de maneira quase unânime (talvez unânime) estações de TV dedicam-se a falar do assunto, mostrar documentários, telejornais de época, evocar os acontecimentos, falar de tortura sem papas na língua, etc.

Não sei se vale de muito, espero que sim. O fato é que coisas como Marcha da Família não estão aí para brincadeira. Ou antes, à primeira vista parecem brincadeira, mas a barreira de informação em torno do acontecido sempre foi muito forte e motivou crenças como a de que não havia corrupção naquele tempo, que havia ordem, que não havia criminalidade e tudo mais, quando tudo isso, inclusive a educação porca que temos hoje em dia gerou-se naquele momento.

A tortura foi o efeito mais visível de tudo aquilo. Se imaginássemos que não existiu tortura, nem nada (a hipótese querida: se não houvesse reação tudo estaria muito bem, não seria preciso haver tortura e repressão seria digna de riso se não fosse trágica: era num estado de completa repressão que se viveu desde 1964), ainda assim seria horrível.

Acho, mais, que todos nós devemos muito aos torturados. Não serviu para nada a resistência.

Enfim, essa educação horrorosa de hoje, em que a escola pública não é mais pública, tornou-se um depósito de meninos pobres, para que não roubem ou se droguem enquanto estão lá, esse abismo absoluto, pelo qual você nascer pobre significa nascer esperança, tudo isso, enfim, são produtos desse período.

Em suma, é bom que haja um pouco de informação nessa história. E, para meu espanto, vi isso no jornal do SBT. Acho que, sintomaticamente, deram uma folga a Sheheraraze, para ela festejar, talvez. O fato é que entrou de Brasília o Kennedy Alencar. E, de SP, uma reportagem falando dos malfeitos da ditadura.

No Silvio Santos… É mais do que eu esperava. Entre alienados (SBT) e alienantes (Globo), algo se produziu. Algo se move.

Em Petrópolis

Escrevi outro dia que aquele fulano que veio se denunciar, dizer que esquartejou, quebrou dentes e tudo mais, podia muito bem ser um mitômano ou um cara que veio para confundir.

As contestações vieram já dentro de casa, e bem sólidas.

Parece ter havido um período em que se fazia mesmo esse tipo de coisa, em Petrópolis.

Num programa de TV pude ver até mesmo um forno crematório.

Bem, parece que essas coisas aconteceram num tempo em que o aparato repressivo saiu de todo controle e, pelo jeito, queria se estabelecer como uma força autônoma.

Isso não melhora a situação dos governos militares em geral. Ao contrário.

Quanto ao cara que depôs na Comissão da Verdade, a não ser mitômano é um ser realmente repugnante, desses que raramente aparecem.