Será que ele é?

Por Inácio Araujo

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Esse Manhães ou Malhães que surgiu contando atrocidades de que nunca se ouvira falar (não eu, em todo caso), tipo esquartejar corpos para que não fossem identificados, etc. e tal já depôs na Comissão da Verdade e tudo mais.

Um caso estranho e raro de peito aberto e olhos cobertos.

De militar que dá a cara a tapa, mas não a mostra.

O que significam aqueles óculos eternamente escuros? São um clichê de torturador, é verdade. Mas, e depois?

Todos ficamos impressionados, claro.

Passado, porém, o primeiro momento tenho umas perguntas a fazer.

Qual a prova material de seus atos abjetos? Existe alguma? Que nomes ele forneceu de asseclas?

Porque falar qualquer um fala.

Não li o depoimento. Só que saiu em jornais, e assim mesmo meio na correria. Me parece que a palavra de um cara desses em princípio vale muito pouco.

Nunca ouvi falar desse gênero de atrocidade: esquartejamento.

Se era para jogar os corpos no mar ou algo assim não havia a menor necessidade de fazer isso.

Embora de vez em quando se descubra algum cemitério clandestino, nossos militares não tinham tanto cuidado assim na ocultação dos fatos.

Ao contrário: era favorável a eles que certos terrores circulassem a boca pequena: era uma forma de infundir medo à população.

Veja-se o caso Herzog: aquela cena fajuta, de suposto auto-enforcamento, com a corda pendurada numa janela mais baixa que a própria vítima… Não era para acreditar. Era uma montagem relaxada, como a dizer: “talvez vocês não acreditem, mas estou pouco me lixando, porque nós somos capazes de impor o que é verdade ou não”.

Por isso essa imagem sangrenta (uma charge o mostra sangrando pelos olhos, por trás dos óculos) me parece que pode ser um fake, coisa de desmoralizar a Comissão da Verdade, ou mero exibicionismo.

De todo modo, inconseqüente: o que ele diz não ajuda rigorosamente em nada. Ao menos o que li, repito. Por isso a pergunta: será que ele é tudo o que diz ser?

Quem puder me esclarecer, esteja à vontade.