A Sanguessuga Diabólica (ou Mizoguchi Kenji)

Por Inácio Araujo

Mizoguchi-500x366

O que fez a força do cinema japonês em São Paulo?

O apego dos japoneses e seus descendentes pela sua cultura.

Quando a gente ia à Liberdade, lá estavam eles, os velhinhos sobretudo, no Jóia, no Nippon, onde fosse.

Depois vieram os vídeos com show de TV.

Sim, porque até eles não importava nada que o filme fosse reprise, que o grosso do cinema japonês estivesse decadente.

Eles queriam estar no Japão através dos filmes.

Depois, eu dizia, vieram os shows de TV em vídeo.

E depois deles o karaokê.

E hoje existe mesmo uma TV japonesa a cabo, a NHK.

Mas o DVD parece que está aberto a esse público.

Eis, ao menos, o que a Versátil parece ter descoberto.

Vieram primeiro os filmes do Ozu, depois os samurais.

Agora é a vez de Mizoguchi.

Ele, que não era chegado em samurais, foi autor do mais belo “47 Ronins” que eu já vi. Uma coisa absurda.

Agora, a Versátil está com um grupo de clássicos em preto e branco do grande Sanguessuga Diabólica, como o chamavam seus colaboradores. E nem vou dizer porque, de tão evidente que é.

São cinco filmes, começando pelo bem manjado e sempre reprisável “Contos da Lua Vaga”. Mas há também “Vida de O’Haru”, obra-prima do mesmo momento, começo dos anos 50, e “Os Amantes Crucificados”, talvez um pentelho abaixo desses, assim como “Senhorita Oyu”.

Dos anos 1930 é “As Irmãs de Gion”, outra beleza, outro canto de amor à mulher (defesa da mulher e amor à mulher, em Mizoguchi, eram meio a mesma coisa: como se sabe, o que ganhava, e não devia ser tão pouco, ele gastava em bordéis).

Ainda tem muito para mostrar. Meu favorito: “O Conto dos Crisântemos Tardios”, de 38, que é espantoso, e os filmes coloridos do fim da vida. São dois, formidáveis.

É um setor em que a Versátil trabalha bem, honestamente, e em que pode muito bem ainda se desenvolver:  a geração de 1960 continua inexplorada ou quase por aqui. E há os Mikio Naruse e Tomu Uchida, e Gosho… E tantos mais!

Por ora: são três discos bem dignos, com uma parte dedicada a extras, baseados sobretudo em entrevistas. Do Brasil vem uma do nosso Sérgio Alpendre.