Claro, há fascistas, racistas e tudo mais de indesejável nessa história de nova Marcha da Família.
(Vale muito bem rever um filme a que não se deu a importância devida, mas onde esse fenômeno já aparece com clareza: “Garotas do ABC”. Na época achavam que era piada…).
Mas tenho a impressão de que, no essencial, essas pessoas ultraconservadoras antes de mais nada não conseguem conviver com as mudanças a jato do contemporâneo.
Não tomo o caso do dono de restaurante (na verdade, pousada) que se diz revoltado por ter de receber pessoas com boné em seu estabelecimento.
Vendo, no ‘Valor Econômico’, a vida pregressa do cara, passou a juventude como playboy, e achando que disputar racha de carro corresponde ao exercício da liberdade.
É um dos líderes do movimento. E suspeito que quando fala dos bonés está querendo falar das cabeças que estão embaixo dos bonés: negras, mulatas, nordestinas…
No mais, o cara acha que nas eleições que pretende convocar depois de derrubar a presidente, só poderão se candidatar “fixas limpas”. Escrito assim mesmo. Em suma, a correção da escrita equivale ao valor de suas opiniões.
Dito isso, o movimento é grave, porque as pessoas não suportam tanta inovação. Um dia você está no Orkut. Um ano depois ninguém nem sabe mais o que isso era.
Quem lembra dos disquetes de computador? Ou dos telefones que apenas telefonavam?
Eu mesmo, com os DVDs que tenho aqui, bem… Hoje em dia ninguém mais copia filmes. Liga o computador (onde os baixa) à TV. Se quer guardar, usa um HD externo (se é que ainda é isso…). Enfim, de repente começam a existir objetos que perdem a materialidade, que se tornam pura virtualidade.
Na Marcha essas pessoas se encontram e se reconhecem. O número por ora é insignificante, mas pode crescer de forma assustadora. Tudo que é idiota costuma dar certo no Brasil.