Um ilustre dossiê sobre o estado das letras é o que publicou a Ilustríssima de domingo.
Pego, de lembrança, a observação que me parece mais profunda: Alcir Pécora sustenta, não é de hoje, que a literatura perdeu a centralidade.
Isso poderia ser estendido, aliàs, às artes em geral, com exceção das artes culinárias.
Também o cinema tem esse problema: do que se fala e para quem se fala?
O refúgio literário mais frequente parece ser a “autoficção”, que Luiz Costa Lima detona com todas as letras.
Pécora acredita que esse fenômeno não é apenas brasileiro (isso não está no texto, ele disse em outra ocasião): as artes caíram em desuso, saíram do centro dos acontecimentos. Existem mais para efeito de marketing, de promoção de vendas ou de investimento (artes plásticas).
No cinema, temos casos fortes. Nas gerações mais recentes há Pernambuco, com uma produção de valor impressionante, há o Filmes do Caixote, em São Paulo, que no ano passado lançou esse filme espetacular que é “O Que se Move”, e ainda Anna Muylaert, Jorge Furtado… E certamente deixo cineastas de lado, como os jovens mineiros do curta metragem e alguns realizadores de documentários interessantes.
Eles fazem bons filmes. Mas vá a uma reunião social e o máximo que a gente escuta é um som condescendente, como a dizer: bom, mas não o suficiente para eu ir até lá ver.
E o resultado é aquele: 5 mil, dez mil, 20 mil espectadores. Um fenômeno: “O Som ao Redor”. Teve até entrevista do Kleber Mendonça nos “Cahiers”. Se bem me lembro, não chegou a 100 mil.
Tudo para chegar ao seguinte: o nosso apartheid, que tem há muito um peso grande sobre a sensação de medo que percorre a classe média, o criminoso assassinato da escola pública no Brasil já há algum tempo nos custam muito e vão custar muito mais no setor das artes, ainda que uma ou outra sobreviva melhor em certos momentos.
A única arte mais viva continua a ser a música popular. Ainda é um evento partilhado. Não é ainda dos ricos, nem dos pobres, não se constituem guetos.
O Oscar
Não chegaremos ao Oscar sem que eu fale um pouco de seus filmes. Mas é que essas questões impopulares me parecem tão urgentes… Tão dignas de serem mencionadas já!