A Imagem que Falta

Por Inácio Araujo

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No meio da projeção de “A Imagem que Falta” me ocorre uma coisa absurda: como são parecidos Pol Pot e Sheherazade.

Porque os dois são “do  Bem”. Ambos querem o melhor para seu povo. Ambos querem sanear a nação.

Mas ambos caminham no sentido do horror.

Pol Pot é mais estranho. Ele e a turma do Khmer Vermelho estudaram em Paris, saíram da Sorbonne para instaurar a barbárie no Camboja.

Sheherazade exala uma inocência menos metropolitana. Saiu de algum lar caipira.

Mas é uma filha da Revolução. A de 1964. Essa que separou ricos e classe média de um lado e pobres de outro, como se pobres fossem uma praga. Essa que estragou o ensino público para que não nos misturássemos com os pobres.

O que veio depois? O medo. Os muros altos. As cercas horríveis em volta dos condomínios.

Pol Pot e Sheherazade são duas metades do Bem, da pureza absoluta.

Não tenho medo do impuro.

A pureza, sim, cria monstros.