No meio da projeção de “A Imagem que Falta” me ocorre uma coisa absurda: como são parecidos Pol Pot e Sheherazade.
Porque os dois são “do Bem”. Ambos querem o melhor para seu povo. Ambos querem sanear a nação.
Mas ambos caminham no sentido do horror.
Pol Pot é mais estranho. Ele e a turma do Khmer Vermelho estudaram em Paris, saíram da Sorbonne para instaurar a barbárie no Camboja.
Sheherazade exala uma inocência menos metropolitana. Saiu de algum lar caipira.
Mas é uma filha da Revolução. A de 1964. Essa que separou ricos e classe média de um lado e pobres de outro, como se pobres fossem uma praga. Essa que estragou o ensino público para que não nos misturássemos com os pobres.
O que veio depois? O medo. Os muros altos. As cercas horríveis em volta dos condomínios.
Pol Pot e Sheherazade são duas metades do Bem, da pureza absoluta.
Não tenho medo do impuro.
A pureza, sim, cria monstros.